Mulheres em conselhos de empresas: entrevista com conselheira Claudia Leite Ferreira

Mulheres em conselhos de empresas: entrevista com conselheira Claudia Leite Ferreira

Apenas 37,4% dos cargos de liderança no país são ocupados por mulheres, de acordo com pesquisa de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desigualdade que se reflete na baixa presença delas em conselhos de empresas.

Estudo da Korn Ferry, companhia global de consultoria organizacional, revela que, em 2021, as mulheres ocupavam 16% das vagas em conselhos de administração. Entre conselheiros independentes, o índice era um pouco maior: 21%.

Embora ambas as taxas fossem superiores ao registrado no ano anterior – 13% e 18% de participação feminina em conselhos de administração, respectivamente –, a discrepância em relação aos homens ainda era – e continua sendo – latente.

O tema motivou o webinar “Mulheres em Conselhos”, que a Associação de Conselheiros do Brasil (ACBrasil) promove na próxima quarta-feira, 22 de março, ao vivo, no YouTube. Participação das executivas e conselheiras Marcela Argollo, como palestrante, e Claudia Leite Ferreira, moderadora.

A seguir, Claudia – que é associada fundadora da ACBrasil – dá mais detalhes do evento e comenta a presença de mulheres em conselhos de empresas.

Como surgiu a ideia do webinar “Mulheres em Conselhos”?

A ACBrasil está promovendo, neste primeiro semestre de 2023, um webinar por mês. Em março, a ideia foi aproveitar o Dia Internacional da Mulher para falar da presença feminina em conselhos de empresas. É um período em que as organizações enfatizam e evidenciam a participação da mulher, seja na indústria, nos conselhos, na liderança e em outros cargos nos quais não poderíamos estar, anos atrás, e hoje ocupamos.

Como você vê a participação de mulheres em conselhos de empresas no Brasil?

Ainda há poucas mulheres em conselhos. Mais do que isso, poucas mulheres, no país, chegam ao primeiro nível de gestão. Agora é que a gente vai percebendo uma maior atuação feminina em conselhos.

Quando começou essa mudança?

Na minha visão, de uns 10 anos para cá. Conforme eu fui me desenvolvendo profissionalmente, fui observando um maior número de mulheres em cargos de gestão e liderança e também como conselheiras. Mas poucas mulheres, infelizmente, conseguem chegar aonde eu cheguei – ser uma executiva, fazer mestrado, ter uma certificação de conselheira pela FGV.

“Ainda há poucas mulheres em conselhos. Mais do que isso, poucas mulheres, no país, chegam ao primeiro nível de gestão.”

Por que você decidiu se certificar?

Por causa da minha experiência. Eu sou formada em Arquitetura e Urbanismo, tenho MBA em Logística Empresarial e mestrado executivo em Gestão Empresarial. Desde o início, de uma certa forma, fui direcionando a minha carreira para a área de logística. O meu alvo, e que foi a minha dissertação de mestrado, é a internacionalização das empresas. Hoje sou executiva de uma multinacional com matriz brasileira, presente em 60 países, e cuido de toda a logística internacional da companhia, inclusive do agronegócio. Com a minha formação, eu posso não só agregar nas questões industriais, como também consigo enxergar a empresa com todos os seus segmentos. Então, eu posso auxiliar os conselhos das empresas em situações que remetem ao operacional, uma área com a qual eles não estão acostumados a lidar. Em outras palavras, posso fazer o link do operacional com o estratégico, por meio do conselho.

Que formações acadêmicas mais contribuem para a atuação do conselheiro?

Eu acho que, para ser uma boa conselheira, você não precisa, necessariamente, ser uma contadora ou uma advogada. A atuação em conselho engloba desde a psicóloga que atua com gestão de pessoas até a engenheira que cuida de obras civis ou elétricas. Precisa, sim, de bastante experiência em todos os setores. É necessário ter cabelo branco, horas de janela… (risos) A conselheira deve ter passado por muitas áreas, para poder entender as dores da empresa e saber onde elas estão, a fim de tratá-las estrategicamente e trazer os resultados que os acionistas esperam.

Como as mulheres, de modo geral, podem contribuir para os conselhos das empresas? Que valores elas conseguem agregar?

A mulher tem um perfil diferente do homem na gestão. Por desempenhar muitos papéis ao mesmo tempo, ela consegue ter uma visão mais ampla do negócio em si. Então, quando está em um projeto, a mulher percebe as interferências que não estão planejadas ou dimensionadas. Ela consegue ter uma visão mais diversificada e abrangente do projeto e sabe onde não se pode esbarrar. Além disso, enxerga o que pode se tornar um problema e criar gargalos na implementação do projeto, o que muitos homens não conseguem. Eu percebo isso nitidamente no mercado e no ambiente corporativo.

“Eu acho que, para ser uma boa conselheira, você não precisa, necessariamente, ser uma contadora ou uma advogada. A atuação em conselho engloba desde a psicóloga (…) até a engenheira.”

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