CONTEXTO: A Inteligência artificial (IA) já faz parte do dia a dia de várias empresas, como uma ferramenta útil para o planejamento e para a administração. Artigo publicado na revista Exame ressalta que grandes companhias já adotaram o recurso como um aliado imprescindível na condução dos negócios. O iFood, por exemplo, com 43 milhões de clientes e mais de 330 mil restaurantes parceiros, está na vanguarda dessa “revolução”. Saiba a opinião de Marcos Nassutti, sócio da ACBrasil, sobre o tema.
A matéria publicada pela Exame chamou a minha atenção, pois uma empresa que começou em 2011, por meio de sua visão e capacidade de crescimento, conquistou aproximadamente 80% do mercado de delivery, integrou um enorme número de clientes, fornecedores e parceiros e tem atuação em diversas cidades. Após alguns momentos refletindo, concluí que alguns fatores foram de grande importância para seu sucesso, incluindo:
- Entender a mudança de comportamento dos consumidores;
- Fazer uso das novas tecnologias;
- Ter disponível um serviço/produto no momento certo (o mercado estava pronto para consumir);
- Possuir um modelo de negócio escalável, com capacidade suficiente para atender o aumento da demanda rapidamente.
A empresa também aproveitou o repentino aumento da demanda durante a pandemia da Covid-19. O aumento do faturamento só foi possível graças ao uso da tecnologia disponível, como internet, aplicativos móveis, geolocalização e inteligência artificial.
Uso de inteligência artificial nas empresas
Os dirigentes desta empresa têm a clara visão de que a inteligência artificial é a parte que está sob seu controle, pois todas as outras tecnologias já estão do lado do consumidor – basta usufruir.
O grande diferencial está no uso da IA, pois ela é utilizada para:
- Melhorar a experiência do usuário, ao recomendar aos clientes restaurantes e pratos com base nos últimos pedidos;
- Melhorar e criar serviços;
- E, não menos, prever o tempo de entrega, por meio de dados de geolocalização, condições do trânsito, tempo das últimas entregas nas áreas próximas e condições climáticas.
Eles também usam a IA para melhorar a eficiência de seus processos internos, como identificar fraudes e acompanhar os sentimentos dos clientes.
IA nos Conselhos de Administração
Na sequência, veio-me à mente o artigo da Harvard Business Review escrito por David Edelman e Vivek Sharma, “It’s Time for Boards to Take AI Seriously”, sobre a importância da inteligência artificial nos Conselhos de Administração. No texto, são destacados alguns pontos:
A responsabilidade dos Conselhos de Administração:
Proteger os interesses dos acionistas e stakeholders diante da disrupção ocasionada pela IA.
Liderar e supervisionar essa mudança transformadora como vantagem competitiva.
A necessidade de levar temas de AI para as reuniões de Conselho:
É imperativo que os Conselhos de Administração incorporem regularmente a discussão sobre o papel da IA, incluindo “atualizações de status” em todas as reuniões subsequentes.
Estar atento aos riscos do uso da AI:
O Conselho deve abordar riscos do uso inadequado de AI por parte dos funcionários, bem como questões de privacidade, segurança e regulamentações.
Ter uma estratégia para usar as oportunidades:
A IA proporciona oportunidades de personalização em grande escala e melhorias nas previsões operacionais, redefinindo a competição e a proposta de valor das empresas.
Os Conselhos de Administração são parte dos negócios. Sua atuação consiste em alinhar as operações da empresa com a estratégia e as expectativas dos stakeholders, reexaminando o modelo econômico da companhia à luz da inteligência artificial.
A IA não pode administrar o negócio sozinha. Estamos longe desse futuro. É apenas uma ferramenta para nos ajudar a refletir e ter algumas ideias sobre um problema ou otimizar a execução de algum trabalho. Os sistemas de IA são poderosos assistentes.
Mas como a inteligência artificial está sendo utilizada na prática pelas empresas?
Segundo o relatório “Top industry use cases of GenAI”, do Gartner, a inteligência artificial vem sendo usada em diversos setores, com destaque para:
Serviços financeiros
- Atendimento pseudo-humanizado 24×7. Chatbots entendem a linguagem humana e fornecem informações mais rápidas.
- Conformidade e monitoramento regulatório na abertura de contas e novas transações.
- Suporte personalizado, por meio da consulta do histórico do cliente e de estratégias dos negócios.
- Detecção de fraude: são feitas análises em tempo real dos perfis de operações e da capacidade financeira, entre outras.
- Algoritmos de negociação, otimização e análise de risco de portfólios, com vários parâmetros em tempo real.
Saúde
- Algoritmos permitem acurada análise nos exames de imagem, com cruzamento dos resultados de outros exames e consequente diagnóstico e detecção antecipada de doenças.
- Descoberta de novas drogas, auxiliando pesquisadores na análise de grandes quantidades de dados.
- Autotriagem conversacional do paciente:
- Fornecimento de orientação clínica com base nos sintomas.
- Autocomposição e sugestões de diagnósticos clínicos.
- Respostas baseadas no conteúdo e na identificação do tom de voz do paciente.
Varejo
- Pesquisa aprimorada do perfil do cliente para aumento das vendas e upselling.
- Identificação do sentimento do cliente nas redes sociais, para identificação de tendência e previsão de resultados.
- Otimização da cadeia de suprimentos, por meio de monitoramento de estoques, questões logísticas e eventos sazonais.
- Bate-papo conversacional e interação com clientes e fornecedores para ofertas e pedidos.
- Melhoria e automação de recrutamento, seleção, contratação e treinamento de funcionários para períodos sazonais.
Manufacturing
- Educação, treinamento e orientação de funcionários em vários idiomas.
- Manutenção preditiva, monitoramento de equipamentos e toda esteira produtiva na busca de anomalias.
- Otimização da cadeia de suprimentos, por meio da análise e previsão de estoques de insumos em tempo real, reduzindo perda de tempo e evitando aumento de custos.
- Inovação de produtos com base no sentimento do usuário e em mudanças de comportamento.
Promovendo o uso da inteligência artificial nas empresas
Não é possível ensinar algo que não se conhece. Como conselheiro de Administração, você precisa quebrar essa barreira, dedicar um tempo e experimentar. Assim, certamente, poderá promover o uso da inteligência artificial nas empresas.
Se você está preocupado por nunca ter usado esses recursos, tem o incentivo agora. Ferramentas como o ChatGPT podem ser intimidantes no início, porque as possibilidades são infinitas. Lembre-se de que, no início dos anos 2000, pesquisar no Google era uma habilidade que os candidatos colocavam em seus currículos. Faça o mesmo com as ferramentas de IA.
Se você não fez isso antes, o primeiro passo é acessar o ChatGPT, Bing ou Bard, criar uma conta (todos são gratuitos) e começar a usar. Faça perguntas. Você pode até digitar: “Sou conselheiro de Administração de uma pequena empresa do setor têxtil em Santa Catarina. Como você pode me ajudar a identificar oportunidades neste segmento?” Basta iniciar a conversa com essas ferramentas. Treine diariamente para qualquer assunto.
À medida que a IA se torna mais acessível, aqueles que a utilizam em seu benefício terão uma vantagem competitiva.
Você, como conselheiro de Administração, deve adotar essa tecnologia e promover seu uso nas empresas, pois ela pode ajudar muito, mesmo que você seja especialista em Gestões de Finanças, Pessoas, Contábil, Marketing, Jurídico, Operações, Tecnologia e até mesmo em assuntos como Inovação e ESG, entre outros.
Faça com que a IA o ajude em sua área. Em última análise: seja curioso, brinque e explore.
Texto adaptado da edição de 8 de dezembro de 2023 da nossa newsletter semanal. Inscreva-se para acessar em primeira mão.