Webinar debate papel de conselhos e conselheiros no ‘mundo Bani’

Webinar debate papel de conselhos e conselheiros no 'mundo Bani'

Empresas pequenas, médias e grandes, dos mais diversos segmentos, operam hoje num cenário de constantes mudanças, marcado não apenas pela volatilidade, mas também por contradições, ansiedade e excesso de informação. Características que dificultam o planejamento de longo prazo e a tomada de decisão, obrigando a revisão contínua de projeções estratégicas. Além disso, transparência, comunicação e ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês) tornam-se preocupações obrigatórias para a sobrevivência da organização. Ou, no mínimo, para que não se envolva em escândalos como o recente caso das Lojas Americanas.

Diante dessa realidade, que o antropólogo e futurologista americano Jamais Cascio chamou de “mundo Bani” (sigla em inglês para frágil, ansioso, não linear e incompreensível), qual o papel reservado aos conselhos e conselheiros das empresas, sobretudo das pequenas e médias? Essa pergunta norteou o webinar “Saudades das incertezas! Questões-chave para os conselheiros num cenário de contradições – Parte I”, que a ACBrasil promoveu em 19 de abril. O evento, transmitido ao vivo pelo YouTube, surgiu como desdobramento de um artigo escrito por Antonio Almeida S. Junior, engenheiro, conselheiro e sócio-fundador da entidade.

Djalma Lima Filho, conselheiro e CEO da Agsus Agronegócios, começou o debate destacando a necessidade de aplicar metodologias de revisão estratégica para monitorar potenciais impactos no negócio, frente a um ambiente corporativo com transformações em altíssima velocidade. A análise, de acordo com ele, deve levar em conta aspectos econômicos, tecnológicos, político-regulatórios e socioambientais, dentro do conceito de ESG.

“A governança funciona como um habilitador de todo o processo de revisão, porque, no final das contas, a diretriz estratégica, assim como o monitoramento e o redirecionamento futuro, acaba sendo uma responsabilidade indelegável dos conselheiros. Nessa linha é que a gente define a frequência da revisão estratégica”, observou Lima Filho.

Apetite a risco

A fim de ilustrar a relevância desse trabalho, o CEO da Agsus Agronegócios citou o caso de uma grande empresa da região Sul. Por não monitorar de forma tempestiva a volatilidade do ambiente de negócios, a companhia praticamente inviabilizou seu complexo industrial, devido a questões logísticas e tributárias.

“O mundo está funcionando dessa maneira. É aí que entra a responsabilidade, do conselho e do modelo de governança, de monitorar continuamente [o mercado] e ir se adaptando, se orientando, à medida que as mudanças ocorrem”, disse Lima Filho.

Para Maria Eugênia dos Santos, gestora de riscos e controles internos da Eletronorte, tão importante quanto revisar o direcionamento estratégico da empresa é medir seu apetite a risco. Em outras palavras, avaliar a quantidade de risco que a organização está disposta a correr para gerar valor aos stakeholders.

“Há empresas que querem um crescimento rápido, mas o apetite a risco precisa acompanhar isso. Eu não posso ter uma empresa que queira crescer muito num curto espaço de tempo e que seja ultraconservadora nos seus riscos. Aí há um problema que não tem como unir. Se eu quero crescer rápido, o risco realmente vai aumentar”, destacou Maria Eugênia, frisando a necessidade de ações rápidas.

“Tempestividade em risco é fundamental, porque não adianta monitorar depois que acontece. A comunicação também tem que ser imediata. Em algumas empresas que não têm uma governança bem estabelecida, há um tempo muito grande nessa comunicação, e isso prejudica. Se você vê que o risco está sob ameaça de se materializar e precisa corrigir o rumo, ele tem que ser levado a quem da governança possa decidir, seja o diretor, seja o presidente, seja o conselho”, complementou.

Para uma comunicação célere na resposta às ameaças, Maria Eugênia recomendou que a governança, de modo geral, tenha acessos a sistemas de acompanhamento de riscos. Isso vale, inclusive, para o conselho.

Comunicação e transparência

Lima Filho ressaltou que uma das atribuições dos conselheiros é avaliar, de maneira permanente, se tudo que foi considerado no planejamento ou na revisão estratégica cobre, mitiga ou elimina os riscos identificados. Uma forma sistematizada de realizar esse trabalho, segundo ele, é por meio de ERM (sigla em inglês para gerenciamento de riscos corporativos).

“Nos conselhos, normalmente, existe o comitê de auditoria, que faz suas apresentações periódicas buscando deixar muito claro a todos os participantes quais são os riscos que a empresa está enfrentando. Assim, o conselheiro pode, no seu devido tempo, tempestivamente, tomar as ações estratégicas ou pivotar alguns imperativos estratégicos da empresa, de maneira que esses riscos possam ser cobertos”, explicou.

Ainda de acordo com Lima Filho, toda a organização, e não apenas diretores e conselheiros, têm responsabilidade pelas ações estratégicas da empresa – cujo sucesso tem na comunicação um de seus fatores críticos. O CEO da Agsus Agronegócios divide o processo de comunicação em duas abordagens: uma interna, relativa à estratégia organizacional, ao código de ética e à delegação de responsabilidades; e uma externa, ligada à geração de valor aos stakeholders.

“A percepção de valor precisa ser comunicada ao mercado. Isso é feito por meio de um relatório anual de gestão e sustentabilidade, de um plano formal de comunicação da empresa. Tudo isso, obviamente, customizado para a situação dela. Se é uma empresa grande, são ferramentas mais robustas. Se é uma empresa menor, ferramentas adequadas ao seu porte”, comentou.

Maria Eugênia, por sua vez, salientou o papel da transparência – que, assim como a comunicação, é uma via de mão dupla. Para ela, uma empresa não pode se considerar transparente simplesmente porque torna públicos dados internos relevantes.

“Quando chega a acontecer um fato relevante, normalmente, é porque o problema já aconteceu. Então, o ideal é que a gente trabalhe para que não precise comunicar nada relevante fora do processo. Mas esse processo de transparência, para que seja de mão dupla, precisa fazer parte da cultura da empresa, estar em seu dia a dia, de modo bem estruturado, com metodologia”, ensinou.

Conselhos e conselheiros para todas as empresas

Para Lima Filho, comunicação e transparência, bem como o monitoramento constante, são a base para que a empresa melhore seus resultados e consiga criar valor por meio da reputação. E ele reforça: é a governança que atua como habilitadora da estratégia, da gestão de risco e dos demais fatores que garantem a sustentabilidade da organização. Tudo isso, segundo o conselheiro, está disponível não apenas para empresas de grande porte, como também para as pequenas e médias.

“Hoje, existem no mercado profissionais de altíssimo nível que gostariam de ocupar uma posição em conselho consultivo, por exemplo, trabalhando pro bono em algumas situações. Em outras, é comum, sobretudo no caso de startups, que o conselheiro atue por meio de uma taxa de sucesso. Ou até, eventualmente, de um cláusula de vesting, ou seja, de uma participação pequena e futura no capital da empresa. Então, existem muitas maneiras de estruturar adequadamente um conselho e aproveitar a experiência desses profissionais que, via de regra, têm muitos anos de atuação no mercado e estão dispostos a contribuir”, afirmou.

“Na verdade, o custo de não ter [conselheiro] é muito maior que o de ter. A gente vai descobrir isso, infelizmente, a duras penas, quando tiver um problema com um risco que não foi adequadamente monitorado”, completou Maria Eugênia.

Almeida Junior – que participou do webinar ao lado de Carlos Alberto Ercolin, presidente executivo da ACBrasil – concordou. Ele colocou a entidade à disposição de empresas que precisem de ajuda na instalação de um conselho.

“A nossa associação está aqui para fazer com que todas as empresas tenham condições de compreender o papel e implementar um conselho, começando, como a boa prática manda, pelo consultivo, chegando ao de administração e montando os comitês necessários para que a governança seja a melhor possível. Queremos deixar uma mensagem de otimismo, de segurança e de um caminho que trilharemos juntos”, finalizou.

A ACBrasil realizará a segunda parte do webinar “Saudades das incertezas! Questões-chave para os conselheiros num cenário de contradições” no dia 17 de maio, das 18h às 18h45. Mais uma vez, o evento terá transmissão ao vivo do YouTube da associação. Participações dos conselheiros Roberto Tommasetti e Ricardo Gentil. Moderação de Antonio Almeida S. Junior e apresentação de Carlos Alberto Ercolin.

Inscreva-se ou entre em contato para mais informações sobre a ACBrasil.

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