CONTEXTO: Levantamento conduzido pela consultoria de gestão organizacional Korn Ferry aponta que dificuldades para cultivar conexões profissionais e julgamentos desfavoráveis são os principais obstáculos para que as mulheres ocupem mais espaço nos conselhos de administração de empresas. A pesquisa foi divulgada no site da CNN Brasil.
Nada poderia estar mais correto do que a matéria recente da CNN sobre a dificuldade que as mulheres enfrentam para entrar em conselhos de administração. Embora tenhamos observado um aumento na quantidade de mulheres em posições de liderança, há um fenômeno inquietante por trás dos números: são frequentemente as mesmas mulheres ocupando múltiplos conselhos, deixando pouco espaço para novas vozes e ideias. Isso ocorre apesar do crescente número de mulheres que se dedicam a estudar e obter certificações para cargos de governança.
Por que isso está acontecendo? Parte do problema é a dinâmica do networking, que tradicionalmente tem favorecido os homens.
Conselhos de administração, muitas vezes, funcionam como clubes exclusivos, onde conexões pessoais e recomendações internas têm mais peso do que qualificações ou habilidades. Se as redes que compõem esses conselhos são fechadas ou centradas em um pequeno grupo de pessoas, a diversidade e a renovação ficam comprometidas.
Sempre as mesmas mulheres em conselhos de administração?
À medida que empresas buscam diversificar seus conselhos de administração, é comum recorrerem a mulheres que já estão estabelecidas e têm experiência em outras juntas diretivas. Isso não é surpreendente: essas mulheres têm um histórico comprovado e são uma escolha segura. Além disso, estão acostumadas com aquelas pessoas que fazem parte de um grupo fechado.
No entanto, essa tendência reforça o ciclo de exclusão, pois deixa de fora uma nova geração que também está pronta para contribuir e liderar. Essa repetição de rostos é prejudicial não apenas para as mulheres que buscam oportunidades, mas também para as empresas que precisam de perspectivas frescas e inovadoras.
A diversidade é mais do que uma palavra da moda; é um elemento crucial para a tomada de decisões eficazes e para o avanço dos negócios. Quando os conselhos se tornam eco de si mesmos, as empresas perdem em criatividade e capacidade de adaptação.
Para enfrentar essa questão, é necessário que as organizações mudem sua abordagem ao recrutamento para conselhos de administração. Em vez de recorrer sempre às mesmas pessoas, elas precisam explorar uma gama mais ampla de candidatas.
Práticas de networking precisam ser revistas
Isso requer uma abordagem proativa, que inclua programas de mentoria e patrocínio. Ademais, é preciso rever as práticas de networking que atualmente limitam o acesso de mulheres a essas posições.
Por fim, é importante questionar por que tantas mulheres qualificadas estão ficando de fora dos conselhos de administração, mesmo quando possuem as certificações necessárias e vasta experiência. A resposta provavelmente está no sistema, que ainda privilegia relacionamentos estabelecidos e retém oportunidades para aqueles que já fazem parte do círculo interno.
Em resumo, os conselhos de administração têm a responsabilidade de promover a diversidade, não apenas como uma meta que se deve alcançar, mas como um compromisso contínuo. Isso significa procurar e cultivar novos talentos, bem como criar oportunidades para mulheres que estão começando suas carreiras em liderança. Mais importante, significa quebrar as barreiras do networking que perpetuam a exclusão.
Ao refletir sobre essa questão, é claro que precisamos mais do que boas intenções; precisamos de ação. As empresas devem liderar o caminho, reconhecendo que a renovação nos conselhos de administração é fundamental para o progresso. É hora de abrir espaço para uma nova geração de mulheres líderes, com as habilidades e visões que irão impulsionar nossas organizações para frente.
Texto adaptado da edição de 3 de maio de 2024 da nossa newsletter semanal. Inscreva-se para acessar em primeira mão.